Inflação adiante? Economista de Harvard diz que é complicado

Por Christopher Rugaber

Aqui nos Estados Unidos, paradoxalmente, a pandemia aumentou a demanda do consumidor, causando inflação. Mas depois que essa condição temporária terminar, o que vem a seguir? Os economistas ainda não possuem uma resposta definitiva para isso.

WASHINGTON (AP) – Dois meses de alta acentuada dos preços levantaram preocupações de que a ajuda financeira do governo em níveis recordes e as políticas de taxas de juros ultrabaixas do Federal Reserve – quando a economia já está crescendo – aumentaram o risco de inflação acelerada.

Em maio, os preços ao consumidor aumentaram 5% em relação ao ano anterior, o maior salto ano a ano desde 2008.

Muitos economistas consideram o recente aumento algo temporário. Outros dizem que temem que os preços ao consumidor persistam. Jason Furman, professor em Harvard, que foi o principal conselheiro econômico do presidente Barack Obama, acha que a realidade é mais complicada. Ele entretanto, inclina-se para que talvez tenhamos uma inflação um pouco mais alta.

Furman observa que, embora a maioria dos economistas espere que a inflação diminua de seu atual ritmo acelerado, nem todos acham que ela cairá de volta ao nível preferido do Fed (Banco Central Americano) de 2% ao ano.

A Associated Press conversou recentemente com Furman sobre por que uma inflação mais alta pode ser apenas temporária, por que pode persistir e se um pouco mais de inflação é tão ruim assim.

O que está aumentando a inflação e você acha que isso vai persistir?

Temos tido inflação considerada temporária devido a um conjunto de peculiaridades relacionadas à reabertura da economia. Por exemplo, os preços dos carros usados dispararam, e outros preços estão voltando ao ponto em que eram antes da pandemia. Não acho que alguém pense que a recente taxa de aumento de preços vai continuar.
A questão é: quanto isso diminui? Diminui para o aumento de 2% por ano, o que costumávamos ver? Ou diminui menos do que isso e ficamos com algo mais como um aumento de 3% a cada ano?

Quão ruim seria a inflação de 3%? É algo que realmente precisamos evitar?

Na verdade, não acho que a inflação de 3% seria terrível, mas depende. Se os legisladores tentassem reduzir a inflação de 3% para 2% (aumentando as taxas de juros), isso poderia ser muito doloroso. Se os salários não acompanharem os preços, isso também seria preocupante. Mas se quisermos operar a economia, ano após ano, com uma taxa de inflação mais alta daqui para frente, não vejo isso como um problema. Mas acho que é importante fazer uma política com base nas expectativas mais realistas e precisas para o que vai acontecer no futuro.

Além da reabertura da economia, o que pode conduzir a um surto de inflação mais demorado?

Acho que as quatro razões pelas quais poderíamos nos preocupar com a possibilidade de a inflação ser mais persistente são:
1 O maior deles é o valor do aluguel. Tanto os aluguéis quanto os preços das casas aumentaram drasticamente.

O segundo fator é que alguns preços são mais rígidos, significa que eles não se ajustam de forma realmente rápida e imediata. Muitos preços mudam uma vez por ano e você verá mais mudanças de preços ao longo do tempo. Os salários também tendem a ser mais rígidos. Muitos empregadores podem decidir em setembro sobre novos salários para janeiro.

O terceiro fator é que é provável que a demanda continue a exceder a oferta durante o resto do ano. As pessoas têm dinheiro e estão gastando esse dinheiro, mas nem todos voltam ao trabalho, o que significa que não podemos fazer tudo o que as pessoas querem comprar.

E, por fim, e de forma mais especulativa, as expectativas de inflação desempenham um grande papel na dinâmica da inflação. As expectativas podem mudar? Elas podem perder os parâmetros se as pessoas começarem a esperar mais inflação? Seria uma espécie de profecia auto-realizável.

Como a situação atual se compara à inflação em espiral da década de 1970?

Não há perigo de uma repetição da experiência como nos anos 1970. O Fed aprendeu essa lição. Eles nunca vão deixar a inflação chegar a 10%. A década de 1960 é o modelo pelo que estamos passando agora. A inflação subiu de cerca de 1,5% para cerca de 5%.

Uma das coisas preocupantes na década de 1960 foi que os salários não acompanharam os preços, e assim as pessoas viram seu poder de compra, seus salários reais caíram. Não estou dizendo que é isso que vai acontecer agora, mas é com esse cenário que devemos nos preocupar.

Você acha que o Fed avaliou adequadamente os riscos?

Eles mudaram a política na direção certa em sua última reunião (em 15 e 16 de junho). Mas acho que eles vão se surpreender ao saber que vão acabar com uma recuperação muito forte nos empregos, que vamos acabar com mais inflação do que esperamos. E então eles vão aumentar as taxas mais cedo do que pensam.

Isso desaceleraria a economia ou poderia causar uma recessão?

Existem dois cenários para o Fed. O mais provável é que nossa taxa de desemprego seja bastante baixa em 2022. A inflação está acima da tendência. E assim a escolha é muito fácil. Eles atingiram aproximadamente a capacidade máxima de emprego. Eles aumentam as taxas. O cenário ruim para o Fed seria que a taxa de desemprego continuasse elevada e a inflação estivesse em 3% e então isso os puxaria em direções diferentes. E não tenho certeza de como eles resolveriam isso.